Ir para o conteúdo

Workshop para artistas educadores da Casa Daros Latinoamerica

(Rio de Janeiro, 2008/2009)
Estudo de caso
Por Lívia Moura

Artistas-educadores do workshop da Casa Daros, dentre elas artistas que participaram da VAV- Lívia Moura, Pilar Rocha, Carol Cortes e Bianca Bernardo, Rio de Janeiro, 2009. Fonte: arquivo VAV.

Durante a graduação no Instituto de Artes da UERJ, participei do workshop para artistas-educadores do que seria a futura (e passada) Casa Daros Latinoamerica (Rio de Janeiro, 2007-2015).  A Casa Daros Latinoamerica foi uma instituição de arte Suíça que tinha na época a maior coleção de arte latinoamericana do mundo. Em torno do ano de 2005, ela iniciou um projeto de reforma de um antigo convento para construção de um museu no Rio de Janeiro voltado para arte política latinoamericana. 

Através da Casa Daros, entrei em contato com as  ideias do curador-educador Eugenio Valdés, que havia sido curador das famosas edições da Bienal de Havana nos anos 90 – bienais que fortaleceram a participação latinoamericana no cenário da arte contemporânea internacional. Inspirado por Paulo Freire, Valdés promovia imersões em projetos de arte socialmente engajada, atuando na vanguarda internacional da arte contemporânea daquele período. 

Eugenio Valdés incentivava a nós – jovens artistas – a vender ações em vez de objetos para o mercado de arte. Obviamente, ele não se referia a ações do mercado financeiro, mas sim performances, projetos sociais, gestos, arte relacional, etc. A expressão “vender ações” marcou profundamente o meu imaginário e foram estas reflexões que me levaram, 5 anos depois (em 2013), a criar a plataforma coletiva VAV- Vendo Ações Virtuosas – que veio a se tornar o meu projeto profissional de vida. Como se deu a formação da VAV, o significado de seu nome e um breve histórico de suas ações serão apresentados mais adiante.

O workshop da Casa Daros  durou cerca de uns 2 anos sob a curadoria de Eugenio Valdés, Márcio Botner e Kátia Maciel. Este percurso propunha uma transversalidade entre arte, educação e engajamento social. Esta transversalidade costuma até hoje ser regida por oposições hierarquizadas, onde a educação e o trabalho social são categorizados como subalternos e a arte contemporânea é tida como uma “arte maior”, emancipadora e voltada para espíritos livres. Para Valdés, a arte seria, antes de tudo, comunicação e, portanto, teria uma didática implícita com uma missão educativa inexoravelmente integrada. Durante um seminário que assistimos na época (e que recebi impresso o texto da sua fala), Valdés afirmava: 

 

“Arte e Educação não são coisas distintas. São especificações distintas de uma atividade comum. (…) temos que introduzir noções pedagógicas na arte para afinar o rigor da criação e para melhorar a comunicação com o público que o artista quer se dirigir. O fato é que não existe verdadeira educação sem arte, nem verdadeira arte sem educação. (…) O formato desse simpósio é para que nos escutemos, nos conheçamos e destruamos os preconceitos obscurantistas. É para que consigamos integrar arte e pedagogia, artistas e professores.”

(Valdés, 2009)

 

Lembro desse período como um dos mais efervescentes dentro dos meus parâmetros internos sobre o que é arte e o que eu queria fazer da minha vida profissional como artista. Além de nos levar para conhecer projetos de arte socialmente engajada que estavam em andamento – como o de Vik Muniz no lixão de Gramacho -, eles convidaram artistas e curadores latinoamericanos reconhecidos por suas práticas engajadas para avaliar nossos projetos, dar aulas, trazer relatos e fazer exercícios práticos. Tivemos a oportunidade de termos nossos projetos avaliados pelo curador alemão/uruguaio Luiz Camnitzer e também de participar do desenvolvimento de um projeto da artista mexicana Betsabée Romero. 

Os projetos de arte engajadas que acompanhamos durante o workshop da Daros despertaram muitas reflexões e contradições éticas e estéticas. Foram muitos ensinamentos nesses processos, inclusive sobre o que precisava ser melhorado. Isso se deu em 2008 e de lá para cá, o circuito de arte vem intensificando ainda mais esses dilemas que surgem a partir do encontro da arte com a luta social, como bem mostra a 15ª Documenta de Kassel citada no livro 1.

Carro Molotov, registro da montagem da instalação, Betsabé Romero, Rio de Janeiro, RJ, 2009. Fonte: arquivo VAV.

Mais fotos do projeto

plugins premium WordPress