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Lingerie Bar Party

(Rio de Janeiro, 2018)
Estudo de caso
Por Lívia Moura

Foto oficial do desfile para o Lingerie Bar Party de Letícia Mattoso com performers: Jhacira XL, Luana Bezerra, Mana Lobato, Nora Barna, etc, com Letícia Mattoso ao centro, Vendo Ações Virtuosas, Jacarandá, Rio de Janeiro, RJ, 2018. Fonte: arquivo VAV.

No encerramento da exposição do Jacarandá, em julho de 2018, Letícia Mattoso criou a Lingerie Bar Party. Este jogo-ritual começou a ser pensado no dia em que reecontrei a Lelê (amiga de adolescência) em 2016. Ela apareceu na minha casa com uma mala cheia de lingeries para vender. Sempre muito engraçada e animada, ela conseguia me fazer gargalhar num momento de grandes dificuldades. Nesta ocasião, eu disse para ela: “Lelê, isso é uma performance artística incrível! Isso é linge-rir! Vamos criar um projeto artístico para você juntar venda de lingerie com conversas descontraídas sobre sexo, saúde, tabus, educação sexual, etc”. A partir daí, começamos a imprimir e bordar frases em calcinhas para a Letícia vender e ela idealizou 2 desfiles: um que aconteceu em 2018 no espaço Jacarandá  (Lingerie Bar Party) e depois um outro sobre o Egito na Uni-Rio (no mesmo ano). 

A Lingerie Bar Party foi um evento em que ela idealizou e produziu, reunindo estilistas de lingerie de classes sociais e culturas muito diferentes, vestindo modeles de corpos diversos, fora do padrão, queer, feministas e prostitutas num evento explosivo, engraçado, bem organizado, cheio de improvisações potentes e bastante subversivo  para um espaço de arte contemporânea daquela época (por conta da presença de tantas pessoas “dissidentes”). Tivemos um fundo musical de improvisações de artistas renomados como o Cabelo, o Rafael Rocha e o Bernardo Ramalho. 

Após o evento, fomos criticadas por um artista famoso – que era sócio da galeria- dizendo que fizemos a “maior putaria” lá dentro. Sim, de fato tinham prostitutas entre nós, nada que este artista que nos criticou provavelmente não conhecesse e apreciasse. Afinal, os homens poderosos da arte sempre fizeram orgias com mulheres submissas, o problema neste caso é que éramos nós a coordenar e protagonizar a putaria e não eles. O patriarcado pira quando a nudez e a liberdade sexual é ditada pelos próprios corpos que os homens estão acostumados a subjugar. 

Na minha opinião, o Lingerie Bar Party foi o evento mais incrível, disruptivo e bombástico que a VAV já fez dentro do circuito de arte naquele momento. Entretanto, ele expôs mais uma vez a nossa falta de ressonância dentro do circuito, o que me fez pensar se aquele era realmente o nosso lugar ou se esse lugar precisava mudar para ser nosso.

Linge-rir, calcinhas Instituto de Artes do projeto Lingerie Bar de Letícia Mattoso, Vendo Ações Virtuosas, Rio de Janeiro, 2018. Fonte: Arquivo VAV
Linge-rir, calcinhas de alfabetização emocional do projeto Lingerie Bar de Letícia Mattoso, Vendo Ações Virtuosas, Rio de Janeiro, 2018. Fonte: Arquivo VAV

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