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Jogo-ritual 8: Abraçando paradoxos- yin e yang

Por Lívia Moura
Para abraçar paradoxos, gostaria de evocar um koan zen. Koans zens são pequenas narrativas enigmáticas que o mestre zen oferece aos discípulos para que eles meditem e encontrem algum tipo de iluminação. “Resolver um koan” é algo para além de entender o seu significado de maneira mental. São necessários dias de Zazen – meditação sentada -, meditação ativa -lavar banheiro, cozinhar, plantar, tirar o musgo da ponte- para ter uma compreensão -iluminação- sobre o significado profundo destes enigmas. Portanto, evoco um sutra cheio de koans que particularmente me debrucei no período em que estava fazendo voto de monja zen noviça no mosteiro San Boji (Parma, Itália) com o mestre Tetsugen (2009-2011). 

Em 2010, tive acesso a versão deste sutra em português durante um treinamento de 10 dias com a Monja Coen em São Paulo. Apesar de não usar as palavras yin e yang, este sutra auxilia a aumentar percepção sobre como este assunto é abordado no método VAV:

a) Leia o sutra abaixo em estado de meditação:

 IDENTIDADE DO RELATIVO E DO ABSOLUTO

A mente do Grande Sábio da Índia 

Estava intimamente ligada de Leste a Oeste.

Entre seres humanos há sábios e tolos

Mas no Caminho não há Fundador do Sul ou do Norte.

A fonte sutil é clara e brilhante.

As correntes tributárias fluem através da escuridão.

Apegar-se às coisas é ilusão,

Encontrar o absoluto ainda não é a Iluminação.

Um e todos, as esferas subjetiva e objetiva,

São relacionadas e ao mesmo tempo independentes.

Relacionadas e, ainda assim, funcionam diferentemente.

Embora cada uma mantenha o seu lugar.

Forma faz com que o caráter e aparência difiram.

Sons distinguem conforto e desconforto.

Escuro faz de todas as palavras, uma.

A claridade distingue frases boas e más.

Os quatro elementos voltam à sua natureza,

Assim como uma criança para a sua mãe.

Fogo é quente, vento é movimento,

Água é úmida e terra é dura,

Olhos vêem, ouvido escutam, narinas cheiram,

Língua sente o salgado e o azedo.

Cada um independente do outro.

Causa e efeito devem retornar à grande realidade,

As palavras alto e baixo são usadas relativamente.

Dentro da luz há escuridão

Mas não tente compreender esta escuridão.

Dentro da escuridão há luz

Mas não procure por esta luz.

Luz e escuridão são um par,

Como o pé na frente e o pé de trás, ao andar.

Cada coisa tem o seu valor intrínseco e está relacionada a tudo o mais

Em função e posição.

Vida comum se encaixa no absoluto,

Como uma caixa à sua tampa.

O absoluto trabalha com o relativo,

Como duas flechas se encontrando em pleno ar.

Lendo essas palavras, apreenda a realidade.

Não julgue por nenhum valor.

Se você não vê o Caminho,

Não vê mesmo ao andar nele.

Quando você caminha não é perto nem longe.

Se estiver deludido,

Estará a rios e montanhas de distância.

Respeitavelmente digo

Àqueles que querem ser iluminados:

“Noite e dia, não percam tempo.”

  (Coen, sd: 33 e 34)

b) Reescreva o sutra refletindo sobre o significado de cada frase escrita:

c) Escolha algum trecho do sutra acima para refletir durante o seu cotidiano:

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