(Rio de Janeiro, 2018/2019)
Estudo de caso
Por Lívia Moura
O evento mais significativo desta fase da VAV foi a exposição “Cura Gentil”, dentro do evento Abre Alas 14, promovido pela galeria A Gentil Carioca em 2018. A Gentil é uma das galerias internacionais mais importantes do Brasil e que promove todo ano um evento para lançar novos artistas (o Abre Alas). Havíamos sido selecionades como coletivo para participar desta exposição e, como íamos pela primeira vez participar de um evento mais reconhecido dentro do circuito de arte, convidei todos os coletivos e artistas que já tínhamos interagido. Ao contrário do que normalmente se faz num contexto de arte contemporânea, compartilhamos a torta que tínhamos em vez de escondê-la dos amiguinhos. Hoje em dia, reconheço este método no que foi utilizado pelo coletivo ruangrupa para a 15a Documenta de Kassel em 2023, descrita no livro 1, onde foram convidados mais de 40 coletivos para participar, que convidaram outras pessoas e assim por diante.
Neste evento, a VAV contou com mais de 30 artistas absolutamente diversos entre si. Participaram deste evento da VAV: Lívia Moura (eu), Carolina Cortes, Mareu, Mana Lobato, Coletivo em Fluxo, Coletivo Los Pintores, Rachel Azoubel, Libório Justo (Camilo), Nora Barna, Duda, Joana Caetano, Clarice Rosadas, Guilherme Vergara, Bicho Grilo, Luana Bezerra, Gabriela Bandeira, Gabriela Valente, dentre outres. Para além das performances e manifestações incríveis que foram promovidas pelos participantes da VAV no dia de abertura e durante a exposição, foi uma grande satisfação ver pessoas que jamais entrariam numa galeria estarem ali como protagonistas. É verdade que a produtora da A Gentil – Rosa – ficou enlouquecida com a gente, pois Jhacira XL e Bicho Grilo, dentre outres acionistas da VAV, apareciam constantemente na galeria com propostas participativas super interessantes, mas que eram “inconvenientes” para uma galeria de arte contemporânea internacional.
Jhacira XL apareceu na galeria num dia que tinha uma visita de colecionadores japoneses e pediu para que eles levassem para o Japão (de graça) uma maçã coberta por cravos, onde ela tinha feito uma magia de harmonização e que precisava ser levada para os 4 cantos do planeta para fazer efeito. Segundo a artista, por conta dos cravos encravados em toda a superfície dela, a maçã não apodreceria. Infelizmente, a maçã acabou não indo para o Japão, mas nos divertimos assistindo a negociação.
Esta exposição já era a 4ª intervenção coletiva da VAV e eu sentia que, sendo um lugar prestigiado, seria a primeira oportunidade de vivenciarmos conflitos internos. Sendo o campo da arte exclusivista e excludente, alguns artistas da VAV queriam aproveitar esta janela para impulsionar suas carreiras, o que é legítimo. Apesar de todos terem oportunidade de apresentar seus jogos-rituais, isso acarretou em muitos desentendimentos sobre o que expor como objeto dentro da galeria. A VAV, neste caso, foi uma curadoria minha dentro da curadoria da galeria A Gentil. Sem conseguirmos chegar num consenso, como organizadora e guardiã dos valores da VAV, optei por trazer para dentro da galeira o triciclo e propus que cada um fizesse a intervenção que achasse pertinente nele. Mesmo assim, surgiram conflitos e, após o evento da A Gentil, minha vontade era terminar com o coletivo de vez.
Ponto de Cultura VAV 2024. Todos os direitos reservados.