BanCoTeAMa - Banco Comunitário das Terras Altas da Mantiqueira
(Itamonte 2021)
O Banco Comunitário das Terras Altas da Mantiqueira -BanCoTeAMa- nasce em 2021 no bairro rural do Campo Redondo em torno da Escola Municipal Bruno Fonseca Pinto. O banco foi criado por Lívia Moura, Acauã Ferreira, Rita Fonseca, Cristina Fonseca e Marcela Camargo -dentre outras colaborações- para pensar modos de promover economias alternativas para o desenvolvimento de atividades pedagógicas, ecológicas e de resgate do patrimônio imaterial. O banco foi criado através da consultoria do professor Hamilton Rocha. Os principais projetos desenvolvidos pelo banco foram:
- Criação da Cooperativa da Lã Mulheres Rurais da Montanha
- Criação da Cooperativa de tingimento natural Coor-Ação
- Moeda Social Manti (projeto suspenso temporariamente)
- Fundo rotativo para curso de capacitação em saboaria fitoenergética
- Criação da Cooperativa Sabonetes da Montanha
Estudo de caso
Por Lívia Moura

Após a aula do curso Alegrias com o professor Hamilton Rocha sobre bancos comunitários onde ele apresentou o Banco Palmas, me reuni com a diretora e as professoras da escola municipal rural onde meus filhos estudam. Esta escola já havia sido considerada uma escola pública rural de referência, entretanto, vinha sendo cada vez mais sucateada, desestabilizando seus serviços básicos. Nos encontrávamos naquele momento particularmente indignadas e sem saber como agir, pois as professoras locais haviam acabado de ser demitidas. Longe de querermos nos opor, abrir mão ou prescindir dos serviços públicos, sentíamos que era necessário nos organizarmos independente da prefeitura, em prol da educação das crianças, do resgate da cultura local e das professoras que se encontravam desempregadas.
Na região rural onde me encontro, situações de exploração, agiotagem, gentrificação e desvalorização da cultura tradicional são uma ameaça contra a qual lideranças as locais resistem constantemente: Rita Fonseca, Cristina Fonseca, Luciene Fonseca, Lucimara Fonseca, Helena Fonseca, Juliana Fonseca, Fabiano Fonseca, Romário Fonseca, dentre muitos outros. A falta de perspectivas de trabalho e o processo de perda da identidade levam, como em todo o Brasil, muitos jovens a vender suas terras, abandonar a área em busca de emprego na cidade, estudos ou melhores oportunidades. Entretanto, o resultado do êxodo rural, tanto no Brasil como em diversas partes do planeta são megalópoles que não suportam a quantidade de pessoas vindas da zona rural assumindo subempregos. Estas pessoas acabam por trocar a vida no campo para situações de vida mais precárias e até mesmo miseráveis na cidade.
Não cogitei colocar à disposição da comunidade o sistema da moeda Afeto (recém nascido), afinal uma moeda sem lastro e com objetivos artístico-pedagógicos moldada pela cultura urbana carioca não teria efeito algum numa zona de produtores rurais. Além do mais, falta dinheiro yang na região, enquanto ainda resistem algumas práticas yin – como trocas, reciprocidade e rifas.
Foi durante a aula do Hamilton Rocha em junho de 2021 que vislumbrei que um banco comunitário (como o Banco Palmas) poderia ser uma ferramenta fértil para a nossa situação. Esta aula se deu em julho e poucas semanas depois, 10 mulheres da região estavam reunidas no bar central do bairro do Campo Redondo numa reunião on-line com o professor. Dentre elas, as professoras demitidas e outras ativistas dos movimentos locais. Fizemos uma série de 3 aulas online com o Hamilton e, a partir de então, começamos a articular um mapeamento das necessidades e potencialidades da região. Em setembro do mesmo ano, Hamilton veio de São Paulo para o nosso bairro rural para fazer reuniões, dar aulas públicas, cadastrar as pessoas na moeda digital E-dinheiro e pré-lançar o nosso banco.
Banco Comunitário das Terras Altas da Mantiqueira foi o nome escolhido pela comunidade em assembleia. A abreviação BanCoTeAMa foi uma criação de Acauã Ferreira. O banco comunitário nasce, portanto, em setembro de 2021 em torno da Escola Municipal local. E, em março de 2022, fizemos uma votação para o nome da sua moeda com 40 opções de nomes dados por moradores locais, onde foi votado o nome Manti. Participaram desta votação mais de 200 pessoas.
A grande diferença dos bancos comunitários para um sistema de moeda social sem lastro, como o Afeto, é que nos bancos comunitários 1 moeda social vale 1 Real. Caso o usuário não queira ou não consiga usar a moeda social em nenhum lugar local que a aceite, ele pode transferi-la de novo para sua conta bancária “normal”. Mas para isso será retirada uma taxa de 1% do valor, de modo a encorajar o usuário a usar a moeda social entre os comerciantes cadastrados no sistema, mantendo-a circulando dentro da sua plataforma.
A moeda social dos bancos comunitários é uma moeda yin que pode se transformar em yang, sendo mais atraente para os mercadinhos locais e produtores rurais, por exemplo. Além disso, é recolhida uma taxa de 2% nas suas transações comerciais. O valor arrecadado com estas taxas serve, 1% para manter o Instituto e-dinheiro e fazer manutenção do App e o outro 1% para a comunidade decidir o que quer fazer. Num banco comunitário raíz, o direcionamento das taxas recolhidas, assim como a política de crédito e todas as outras iniciativas deve ser uma decisão da comunidade e para a comunidade, feita em assembleia geral e democrática. Ao contrário dos bancos tradicionais capitalistas, o banco comunitário não tem especulação financeira e nem lucro.
Após a vinda de Hamilton no nosso bairro, 6 pessoas do movimento local se inscreveram no seu curso on-line de bancos comunitários que durava um ano (3 horas por semana). Três pessoas seguiram o curso até o fim: eu, Rita Fonseca e Acauã Ferreira (e mais a Marcela Camargo que quase chegou ao fim do curso). Com estes parceiros, fomos colocando em prática alguns dos aprendizados de articulação comunitária indicados por Hamilton.
Para saber mais sobre os desdobramentos do BanCoTeAMa e da moeda Manti, vá para o menu, clique em trajetória e depois clique em Ponto de Cultura 2023.

